13 fevereiro 2007

Utopia

O sol é brando, o vento é geladinho, a mamãe fez torradinha com café. E, finalmente minha amada me ama pelo que sou: rico, musculoso, duas casas, um carro do ano...BINGO! Além disso, meu cabelo parou de cair, minha barriga está sarada, meu dente do siso eu arranquei e livrei-me, por um instante, do TOC. Hehe
Mas, toda essa bobajeira veio me trazer uma lembrança da infância, ou pré-adolescência. Quando ainda não estávamos viciados por esses valores deturpados, e o que nos importava mesmo era voltar pra casa. Eu devia ter entre 10 e 12 anos. Sujo, soado, bebendo água e tomando picolé de carrinho na calçada com os caras depois de uma partida de futebol. Então, chegava minha amada com aqueles óculos ridículos e aquele andar bobo que só ela tinha, e que eu adorava. De vez em quando ela vinha me ver jogar. Não tínhamos muito assunto, mas gostávamos muito da presença um do outro. Ela ficava mais era desenhando na areia ou lendo aquelas revistinhas de adolescente. Nesse dia eu lembro que ela me falou alguma coisa bem de perto. Mas, só consigo lembrar de que ela estava hálito de café com biscoito recheado (eu queria um?) Claro! Queria uns!
Então, todos nós ficávamos mais um tempinho por lá guardando nossos uniformes semi-pretos pra nossas mães lavarem. De repente, já era tardinha. Lá de longe dava pra escutar a avó do Jonas chamar ele pra tomar banho, enquanto que as luses dos postes acendiam - era nosso relógio. Dessa hora, eu tenho uma clara lembrança do sol ainda brilhando no muro alto branco, que dividia o campo do condomínio ao lado. E do outro lado, o barulho de pais buscando seus filhos no colégio. Daí os "atletas" seguiam juntos até suas casas cansados, uns com suas fiéis escudeiras, outros com seus os joelhos cortados. Todos felizes, se dando permissão de continuarem sendo crianças por mais um pouco. Como era massa! E tudo isso era real.
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